Para um administrador, não há duvida. Devemos planejar nossa vidas em todos os sentidos: na carreira, na família, nas metas individuais que nos propusemos à própria existência. Já para várias versões religiosas, devemos não nos preocupar com o amanhã, somente com o hoje - aqui e agora - como forma de "captarmos" um plano superior. E no meio dessa dúvida estou há 42 anos.
Olhando o passado, vi que, ao contrários de muitos de que não tem dúvida do que querem fazer da vida, na minha as coisas foram acontecendo. Ao contrário do que tem a meta a frente dos olhos, e só ela, de forma clara, nunca planifiquei minha vida pessoal e profissional.
Lembro da infância, quando passava longas temporadas na casa do meu avô, que arrendava terra para plantar, tudo estava perfeito. Brincava de agricultor e caçador de bodoque, ia pescar no açude nos fundos da casa, comia, dormia - e assim poderia ser até hoje.
Mas a roleta da vida levou meu avô a colocar um dias seus pertences na carroceria de caminhão e nunca mais voltei ao meu paraíso particular. Cresci, terminei o segundo grau e recebi a missão de minha mãe de cursar uma faculdade. Fiz vestibular para oceanografia em Rio Grande e não passei. Fiz para jornalismo em Porto Alegre seis meses depois e passei. Se dissesse que foi um grande decepção não ter sido aprovado na primeira opção que fiz, mentiria. Do mesmo modo, se afirmasse que me econtrei com o jornalismo, também não seria de todo verdade, apesar de também não ser uma grosseira mentira.
Casei, sem ter planejado, fiz um curso da RBS e tive a opção de vir trabalhar em Floripa, no DC. Tempos difíceis, morando em barraca - alugada - depois em um quartinho na Lagoa depois uma baita casa na Vargem Grande.
Sai da redação e fui para assessoria, e aqui estou até hoje, passando por diversas empresas/clientes.
E agora? O que posso planejar? Uma aposentadoria decente? Um jeito de ganhar mais dinheiro? Ou vou dar mais um bocejo, passear na praia no final de semana, e deixar qualquer plano para depois e depois e depois, como geralmente acabo fazendo. Talvez o melhor seja um misto de planejamento com o deixar rolar, para não sofrer quando as coisas não dão certo.
Se existe sorte, posso dizer que foi ela que me salvarguardou até aqui, meu deu uma mulher fantástica, amigos poucos mas fiéis e um jeito simples de viver, que me desobriga de tentar a mega-sena toda semana, e uma casa que é meu castelo medieval (estou lendo D.Quixote atualmente).
Mas também não posso viver inseguro dos bens materiais, mas não piscar pescoços para galgar altos postos de poder. Vi um documentário final de semana sobre como levar uma vida filosófica, baseada em Sêneca, que viveu uns 70 D.C.. Dizia o esperto cidadão romano que precisamos ter ciência que estamos no leme de nossas vidas, mas que tudo poder dar errado a qualquer momento. Se tivermos ciência disso e preparo para suportar os reveses sem histeria, eis a vida filosófica. Aceitar o que não se pode remediar. Como Pompéia à beira de um vulcão que dormiu por séculos e um dia resolveu acordar e liquidar com a comunidade que fica perto.
Que Deus me ajude, como sempre fez, e me ilumine com fez a Salomão, dando-me sabedoria e paciência para fazer a coisa certa na hora certa.
E vamos em frente até onde não sei. Só me ocorre planejar viver, viver, o quanto puder, o quanto merecer. Talvez começe a jogar na mega-sena para, sorteado, comprar aquela fazenda onde vivia na infância e passar a velhice fazendo coisas semelhantes.
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