terça-feira, 30 de novembro de 2010

O surdo que trabalhava na rádio

A ironia, sempre ela. O cara trabalhava na rádio e não escutava a programação que com tanta preocupação esmerava-se para colocava no ar. Nada de avaria no sistema auditivo. Mesmo assim a mensagem não chegava completa, apenas fragmentos captados aqui e ali.

Era responsável em marcar entrevistas e definir pautas para repórteres. Enquanto a entrevista rolava, sua mente fica longe ali daquele estúdio sufocante e pequeno: um verdadeiro aquário onde não há boca de peixe se movimentando sem parar, só de locutores. do lado uma mesa de operação com o operador a milhão escutando a programação da rede, comerciais, o locutor, tudo ao mesmo tempo: e ele realmente parece captar tudo.

E ainda tem o trimtrim de dois telefones, ouvintes ávidos em dar sua opinião, palpite. E daqui a quinze minutos o que colocar no ar, com qualidade. O negócio é dançar um samba-roque meu irmão, com diz Seo Jorge.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

de doer

Longe de você, meu bem, longe da alegria (Marisa Monte)


Mais um crime, mais uma morte. A discussão no bar, a vingança em três tiros certeiros e uma filha de quatro anos sem pai. Mais uma notícia a veicular, comum no dia a dia da mídia.

Mas o que dizer a um olhar infantil, assustado, que não entende direito porque papai foi pro céu tão cedo? E ainda levam a garota para ver seu amado no velório, e o sangue não pára de verter do corpo sem vida pelos buracos dos projéteis.

Vingança? Devolver a tragédia para a família do assassino? Amar o inimigo?

Como reconstruir a vida da família? O tempo cura as feridas; verdade. O que nos fere, nos torna mais fortes, outra sentença que parece verdadeira.

Só posso fazer a minha parte, consolar e buscar na própria vida uma saída diária, lenta mas gradual.

E segue o jogo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O caminho de areia

As dunas no final da minha rua exigem muito fôlego para subir.
Os pés afundam e parece que não consegimos avançar morro acima.
Com persistência e sem olhar para cima, pois desanima, as pernas realizam um trabalho mecânico de subir escavando ou patinando. Por isso é bom seguir as pegadas de alguém que foi na frente pois ficou uma escadinha gravada no cômoro.
Depois é só chegar no alto, respirar fundo e curtir a paisagem do mar do Moçamba, do deserto de dunas e da vegetação lá em baixo, de vassouras, pinheiros e outros arbustos.
Dizem que Deus usa aquela área de playground particular, só posso afirmar que ali o vento faz a curva e levanta um véu de areia fina.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

poema da dúvida ou aparência

Não é mas é
Vou não fico
Nem mesmo vou
Sou uma sombra
Sob a sobrancelha
Alheia
Cuspo e pigarreio
Vida que vai
Sem objetivo
E sem receio
Nada Interessa
ao extremo
Enquanto tudo tem
Grande relevância
Calo e encalho
Me encolho
e colho
o que
não plantei

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Fábula revisitada

Fábula para a juventude


A história da formiga e da cigarra aconteceu bem diferente do que conta a fábula original. Só o início é verdadeiro. No verão a formiga trabalhava muito, realmente, e a cigarra cantarolava suas últimas composições musicais na floresta do norte. A formiga, muito prudente, preparava com as colegas de trabalho o ninho em baixo da terra, com bastante comida, para enfrentar os terríveis dias de frio do inverno.
E, num galho e outro, a cigarra buscava a perfeição do próprio canto, aprimorando melodias que nos dias quentes tanto alegrava a bicharada da floresta e também os insetos. Sem esconder um pitada de inveja, a formiguinha, sempre carregando uma folha ou talo, pensava consigo mesma: “vai cantando espertinha, quero ver quando teus membros ficarem enrijecidos com a neve que há de vir”. E assim a vida ia, com o trabalho pesado da formiguinha e a alegria cantante da cigarra.
E a estação do calor aos poucos foi indo embora, chegara o outono e logo em seguida as primeiras nevascas, gelando a terra e seus seres. Ao primeiro sinal, as formigas, sempre antenadas com a previsão do tempo, começaram a entrar no formigueiro forrado de comida para vários meses. Depois que todas desceram o túnel principal, a formiguinha porteira, aquela que na sua pequena cabecinha amaldiçoava a cigarra, começou a cerrar a entrada do ninho. Nisso, ouviu-se um toc, toc desesperado na porta da morada subterrânea. Era a cigarra, tremendo de frio: “deixem-me entrar, por favor, estou morrendo aqui com toda essa neve que não me deixa sequer andar, quanto mais voar ou cantar!”
A formiga, que quase já fechara a entrada do formigueiro, conforme sua obrigação, num flash de memória lembrou todo o verão de uma vez só em menos de um segundo: ela suando muito, carregando alimentos trinta vezes mais pesados do que seu corpinho preto, indo e vindo, e a cigarra cantarolando, cantarolando. “Vai se danar, sua preguiçosa” – berrou pela última fresta que faltava a ser fechada – “agora você está colhendo o que não plantou quando podia e devia. Canta, que quero ver, papuda!”.
Com um fio de voz, já sem forças, a cigarra só pode sussurrar pela última vez talvez: “por favor...”, e desmaiou sobre a tampa do formigueiro, agora toda lacrada por meses, até o início da primavera. A morte era um vulto branco como os flocos de neve. Morrer era questão de minutos, quem sabe segundos.
Cumprida a sua missão, a formiga então começou a descer o túnel até a câmara onde ficaria ali, com suas companheiras, encolhidas, comendo e dormindo por meses. Mas de repente uma idéia começou a pesar muito mais que todas as coisas que ela havia trazido para baixo da terra: sua consciência. Lembrava dos detalhes do verão, ela trabalhando duro, a cigarra cantando. Agora tinha clareza na sua cabeça com antenas que todo o fardo que carregou ficava bem mais leve quando a cigarra estava por perto a cantar. Com aquelas melodias, o dia passava mais rápido e o cansaço parecia menor, a alma era contente. Também lembrou do que estava por vir: dias monótonos, sem nada de importante para fazer, somente ficar ali quietinha, esperando dias melhores.
Pensou, pensou – o que não era muito do seu costume - e sem demora voltou a desobstruir com força e agilidade parte da passagem principal do formigueiro, onde quase morto, o corpo da cantora estava imóvel, quase sem ânimo. A formiga então agiu rapidamente, retirando a cobertura de neve e arrastando a cigarra para dentro.
Quando voltou a si, meio zonza ou meio morta, a cigarra achou que estava no céu, mas tudo era tão estranho, tão cheio de formigas que se juntavam para ver aquele ser estranho no ninho, trazido de última hora. Seria também transformada em alimento pela tropa ?Em vez do paraíso, aquilo bem que poderia ser um inferno, era uma questão de escolher a interpretação desejável, como seus primos humanos. Olhou para o lado e para o outro e então escutou a voz da sua salvadora, recuperando de vez a consciência:
- O negócio é o seguinte, salvei sua vida por piedade, apesar de você ser muito preguiçosa e não gostar do trabalho pesado. Mas aqui no formigueiro ninguém vive sem trabalhar, essa é a principal lei que nos governa: come quem trabalha. Por isso tenho uma proposta que pode salvar sua vida, se aceita, ou então vou te devolver para os dias gelados lá fora.
- Qualquer coisa, menos morrer de frio, é horrível – respondeu a cigarra..

E aqui termina a história atualizada da cigarra e da formiga. Para sobreviver, a cigarra combinou trabalhar no formigueiro, fazendo shows e cantando novas músicas que acabaram com a tristeza no formigueiro por todo o inverno. Mesmo sem poder impor muitas condições fez algumas exigências: camarim, palco iluminado e mel para cuidar da voz. Espetáculos aqueceram corpos e almas da comunidade nos meses mais tenebrosos do ano, inclusive com os aplausos entusiasmados da rainha das formigas em inesquecíveis capelas. Outros formigueiros da região receberam pelas antenas a mensagem da novidade, e providenciaram túneis para que a grande astro do subterrâneo fizesse sua turnê pelo subterrâneo O contrato para os shows acaba justamente nos primeiros dias primaveris, quando a cigarra ganharia o que há de mais valioso para todos os seres: a liberdade.
Comenta-se que está rolando um romance entre a cigarra e sua formiga salvadora. Mas isso não podemos confirmar se é verdade ou mais uma fábula que precisa ser escrita.

personagem

A borboleta beija a flor
Tipo beija-flor
Bate asas esquisita

E para no ar do meu
Pensamento no pátio

Colorida nem lembro a cor
Azul roxo escura – vivia
A vida naquela hora e lugar
Como eu, como eu

Sem compromisso com a filosofia
Só com a tarde ensolarada
Traduzia verde em torno da flor
Do jardim:
vagina que escorre néctar
aos lábios de um querubim

quinta-feira, 15 de abril de 2010

o tirano

Eis que o tirano passeou por seu pátio e nada quis ver das árvores que lhe assoviavam com o vento de popa do terreno murado. Ele era um cara terrível, arrogante, insensível, vingativo, ressentido e com outros vícios da vaidade humana.
Ninguém prestava para ele, só ele, inconscientemente sabia disso e até em lampejos de lucidez. Em sua filosofia de vida, não deveria se deixar contaminar pelos comportamentos que valorizavam só as coisas frívolas, materialistas e de valor de aparências, hipocrisia, falsidade, e outras baixezas da alma da maioria.
Não tinha ilusões em relação aos interesses dos que lhe cercavam, até e principalmente a respeito dos mais íntimos. Disfarçava bem, hipócrita como aqueles que tanto apontava nas ruas e praças, em reuniões.
Se reiventar, revolucionar, palavras vazias perto do curso dos acontecimentos e iniciativas de uma pessoa. Pois tentou acreditar que o importante era o fazer, o atentar e não o dizer. E foi jogar bola.

terça-feira, 16 de março de 2010

As coisas boas da vida

O que é bom Fedro, será que alguém tem que nos ensinar o que é bom?

Essa frase emblemática da Grécia Antiga, do primeiro iluminismo da civilização, e parte do conceito de que já sabemos o que é bom ou mal a priori. Já nascemos discernindo o leite do peito da mãe do leite em pó.

Mas a pergunta ecoa à falta de uma resposta definitiva sobre o assunto. O bom em termo de qualidade, vai se aprendendo com o crescimento. Vinho bom é aquele que nos habituamos a tomar. O melhor é de Bento, até descobrirmos um mundo de vinhos infinitamente superiores.

Morremos sem saber o que era muito mais bom de melhor, nessse caso. É só um exemplo pobre que me ocorre.

O bom pode ser uma sensação, e geralmente a é. Passageira, duradoura, de todo tipo e de todos os tons e cores.

O mal, no entanto, pode estar disfarçado de bem. Cheirar coca dá ligadeira, mas cobra um preço alto à qualidade de vida do usuário. Mais um exemplo pueril, mas vamos lá. Exercícios e alimentação equilibrada podem ser a qualidade que procuramos.

E desde Zaratrusta vivemos entre as duas forças, a do bem e a do mal. No fundo é a procura mais importante da humanidade. Para passar o tempo nos perguntamos de onde vimos e de onde iremos, eternidade, bla, bla,bla.

Mas o que importa é saber o que é bom. Para mim, com certeza. E para os outros? Tchan tchan tchan tchan

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Deus e David Hume

Lendo atualmente, sem ainda ter concluido, a obra "Investigação sobre o entendimento humano", do inglês empirista David Hume, cheguei a Deus.

Diz o filósofo iluminista que não existe nenhuma idéia, conceito mental, sonho, pensamento ou delírio que não tenha vínculo com a realidade externa às nossas cabeças, ou seja, à natureza e ao universo. Pode-se imaginar uma montanha de ouro somente depois que conhecemos os dois conceitos misturados: a montanha e o ouro.

E agora mais pergunto do que afirmo. Se tudo que imaginamos tem vínculo direto com a realidade, então Deus existe. Ou então como chegaríamos a este conceito do Criador que tudo fez sem ter alguma referência no real?

Poderia especular que Deus é a imagem do pai. Mas todos sabemos que nossos pais, apesar de nos darem a vida e nos criarem, não geriram também os pássaros, as árvores, animais e todo o resto.

Então para delírio dos mortais (deste mortal aqui), a prova que Deus existe vem de um cético como Hume e não da bíblia ou das palavras de um pastor.

Sei que nada sei, assim falava Luciano

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Corrupção inicia na infância

- Filhinho, se você se comportar amanhã compro um brinquedo novo, certo?
- Certo.

Num país com muitos casos de dinheiro na cueca, propinas, mensalões, superfaturamento de obras publicas e caixa 2, pode-se indagar, onde começa toda essa corrupção?
Na infância.

Os pais que "subornam" seus filhos, prometendo vantagens por alguns minutos de paz em casa, estão disseminando o germe corrupto que se vai crescendo com a criança e com o país. E o pior que a conta a ser paga em atos de corrupção infantil cresce como bola de neve ladeira abaixo. Hoje a exigência é uma bala, amanhã um brinquedo ou roupa da moda (Alô Kiti).

Por isso, encare seu filho, não é não e pronto, manda o adulto, a criança obedece, e não ao contrário. Manter uma posição durona pode ser um transtorno inicial, mas depois de estabelecidas as regras, o ciclo vicioso de ter de dar algo para se fazer obedecer vai arrefecendo.
Pense nisso, porque a adolescência e exigências maiores aguardam os pais pusilâmines, sem falar de tudo que pode acontecer nesse contexto.

Assim falava Luciano

Não acabe com a fome

Muitos desfrutam o privilégio de ter alimento à mão a qualquer hora, até na madrugada,naquele assalto à geladeira. Não sentir mais a sensação de fome, no entanto, é bastante prejudicial à saúde.
Sempre saciada, a pessoa tende a obesidade que, juntada a falta de atividades físicas, pode provocar sérios problemas de saúde, do avc ao infarto, passando por problemas de coluna, estômago e outros.
Quem já come sem vontade de comer, apenas para cumprir o regulamento do horário (café, almoço, café, jantar), está prejudicando a própria existência.
Muitos confundem um ronco no estômago como alerta para necessidade de engulir algo urgente. Mas nesses casos é o estômago que está terminando de processar alimentos anteriores e, quando a máquina vai descansar, vê-se obrigado a reiniciar mais uma jornada de digestões, muitas com muita gordura.
Por isso, passe fome todos os dias, e não a sacie totalmente, pois o aviso de saciedade sempre chega atrasado. Assim falou Luciano.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O velho livro e a net


Nada, mesmo com as ferramentas tecnológicas disponíveis, se compara a um bom livro, em termos de experiência sensorial. Em vez de ter na internet um concorrente, a boa obra literária, aquela da ficção recheada de realidade, pode dar um rumo sobre a navegação.


Por exemplo, estou lendo A Guerra do fim do mundo, do Vargas Llosa, sobre Canudos. Já me servi do google earth e da wikipédia para ampliar meus conhecimentos sobre o contexto agrestge em que corre a obra literária. Já fiz isso sobre livros que se passavam no México, Espanha, sem falar na antiguidade, da Grécia Antiga à soberba Roma.


O ganho com a pesquisa internética a partir de um romance é um grande barato. Para quem realmente viaja na literatura, sendo mais um degustador do que devorador de palavras e sentenças.


Experimente, recomendo

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Perdi a virgindade, e agora?

Por mais informação e camisinha disponível nas unidades de saúde, na primeira vez em que uma adolescente transa é bem possível que a situação não estivesse programada para a iniciação sexual.

Festinha, álcool, bonitão,banco do carro e pimba; a virgindade ficou pra trás.

Sexo é um ato atávico, o corpo vai se transformando à base de hormônios de crescimento e sente necessidade de perpetuar a espécie. Inevitável ter necessidades ardentes de desejo, como sentir sede e fome.

Os programas de saúde governamentais deveriam olhar mais por esse lado a situação, orientando sobre sexo antes, durante e depois, levando em conta que muitas vezes não deu para programar nada na hora caliente vivida. Em casa, mesmo com toda a liberação sexual, provavelmente a jovem não vai tratar do asssunto para não levar bronca. Com o pai, muito menos.

Sobram as coleguinhas pra tratar do assunto, mas estas também não podem dar muita orientação por falta de experiência de vida.