terça-feira, 14 de junho de 2011

A vida como ela não é



Luciano Almeida

É dura a constatação de como realmente é, de forma nua e crua, a alma, a personalidade, ou a identidade do indivíduo, como queiram. Lendo recentemente CONTRAPONTO de Aldous Huxley, e começando Lobo da Estepe do Hermann Hesse posso afirmar que ler significa um mergulho nas profundezas do ser humano. Humano, demasiadamente humano, já dizia o velho bruxo da filosofia de nome que parece espirro.
A primeira sensação que se tem da exposição da vida cotidiana de qualquer pessoa pela literatura – citei dois autores que recém adentraram na minha mente - é devastadora para o que pensamos sobre o que somos. O espelho do imaginário quebra-se em rachadura de cima a baixo, lâmina espelhada transformada em cacos.
Os muitos e diversos pontos de vista que analisam as personagens, seus modos de agir e ver, muitas vezes contraditórios – como nós –, faz pensar. E inevitavelmente nos colocamos no lugar das personagens, torcemos até pelo matador de Crime e Castigo!, porque se parecem conosco em alguma coisa.
A ruptura da autoconsciência leva, num primeiro momento, e deve ser por isso que muitos não gostam do gênero literário, ao pessimismo. Foi o que senti. Ver como tudo pode ser um teatro com as tragédias e comédias que nos metemos sem querer querendo com o correr dos anos e fases da existência. É pura bucha. Não há saída, aparentemente.
Porém, passada a primeira impressão, uma reflexão do que pode ser aproveitado ou não do conteúdo do texto pode descer bem para a consciência. É a velha história, o que não mata, melhora. Tudo depende dos interesses do indivíduo sobre a própria existência, mas para quem persegue a verdade, ou o mais próximo do que se possa chegar, as sacadas dos autores se transformam em prato cheio para refletir.
A leitura que se possa fazer na vida cotidiana das pessoas que nos rodeiam – quando não tonteiam – é uma dessas benesses da literatura, da boa literatura. O autoconhecimento, o verdadeiro e não aquela ilusão inicial, também marca ponto positivo para a obra literária. Tudo isso para concluir uma novidade de mais de 2.500 anos lançada pelo filósofo grego, e mal cheiroso, Sócrates; só sei que nada sei.
A vida, o universo, a realidade é gigantesca e assombrosa, mas nos aceita com todas as nossas limitações e dúvidas. E ler é o caminho para as estrelas. Melhor que enterrar-se na lama de nossas idéias preconcebidas e engessadas. Ao aceitar a realidade como ela é, vem a liberdade. E aí resta espreitar e aprender com as situações, sem nos inocentarmos ou culparmos de todo. Leia.