Jornalismo radiofônico enlouquece
Por Luciano
Almeida
A produção de jornalismo em rádio tem que ser feita em tempo
real, mesmo que muitos conteúdos já estejam previstos com antecedência. Com
estímulos e cobranças vindas de muitos lados ao mesmo tempo, a dinâmica, para
quem não tem gosto com a área de atuação, pode ser enlouquecedora. Realmente é.
Até para quem gosta.
Atuando há muitos anos em radiojornalismo, um produtor sabe
que mesmo com entrevistas e pautas, previamente agendadas, atender ao telefone
que toca é como trabalhar no garimpo –
pode render ouro em pó, em meio a tanto cascalho sem valor. Pode ser informação
“quente” em meio a outras frias repassadas pelos ouvintes que muitas vezes só
podem para ser ouvidos um pouco sobre as aflições cotidianas. E tem que ter
tempo pra ele também, que te prestigia com a audiência que faz o negócio dar
certo.
Além do
aparelho telefônico interromper o tempo todo qualquer linha de pensamento ou batida
no teclado da nova pauta, também tem o e-mail que chega, o whatzapp, uma ideia
lembrada com urgência pelo chefe, a vontade de ir ao banheiro que vai sendo adiada, o repórter que
quer entrar no ar já porque tem uma reportagem importante.
O horário de entrar os comerciais já está
passando, perigosamente muito além do tempo previsto, é preciso alertar os
colegas de que o compromisso comercial é muito importante e fazer o barco andar
harmoniosamente, o melhor possível.
E aquela
entrevista agendada um dia antes vai perdendo a relevância perto de tudo que
está acontecendo. E você ali, se culpando por te se firmado um compromisso com
a fonte contatada 24 horas antes. Dá pra remarcar, mas o entusiasmo inicial
ficou na poeira das horas e dos novos fatos. Mesmo assim manda a educação ligar
e se explicar com quem se dispôs a falar em público com os ouvintes.
Não significa, no entanto, que não deva haver planejamento,
este voltado para assuntos muito pertinentes ao interesse da sociedade, de
forma ampliada ou localizada, atendo ao público de um segmento social, de um
bairro, de uma cidade da região metropolitana.
E quando o tema é importante, e trabalhado com mais tempo
pela reportagem, o programa radiofônico ganha peso e explode na audiência feito
bomba. Felicidade total quando outros colegas pedem uma cópia do áudio, o fone
do entrevistado.
Mas só porque você já tem o peixe garantido da pesca anterior
não significa que o profissional não tenha que estender o espinhel no mar
noticioso todo dia. É bem isso que acontece, liga-se para uma pessoa na qual há
interesse, está na caixa postal. Deixa-se então recado, escreve-se uma mensagem
(o telefone tá tocando, tocando) pedindo retorno o mais breve possível.
Se é um
assessor de imprensa, e já atuei nesta área mais de uma década antes de voltar
para o radiojornalismo, e por isso considerando os bons profissionais que se
revelam grandes e ágeis parceiros, a
pergunta é curta e grossa: que interessa esse assunto? A quem interessa? Se a
resposta for sem lead, sem convencer na
primeira frase, a entrevista pode cair na gaveta do esquecimento. Caso
contrário, ok, vou ver o material e talvez te ligo um dia desses. Depois da
chuva.
Para quem gosta desse redemoinho de atividades em
informações, outra área do jornalismo é lembrada como deprimente e entediosa. Mesmo
que as leis da interatividade valham também para tv, rádio e internet. Dizem
que rádio é cachaça, parece sim.
Mesmo saindo ao final do
turno no bagaço, com dor de
cabeça, no corpo e na bexiga, a ressaca passa logo logo, e no próximo dia seus
efeitos já estão esquecidos. Acorda-se
com uma sede insaciável, buscando ler muito sobre tudo para estar atualizado.
E se tudo foi bem ou mal no dia anterior, esquece! Uma nova
batalha começa da estaca zero, que exige mais uma vez estar antenado à
realidade em tempo instantâneo. E vamos à luta, como se fosse o primeiro dia de
trabalho na vida.