quarta-feira, 6 de julho de 2016

Jornalismo radiofônico enlouquece
Por Luciano Almeida
A produção de jornalismo em rádio tem que ser feita em tempo real, mesmo que muitos conteúdos já estejam previstos com antecedência. Com estímulos e cobranças vindas de muitos lados ao mesmo tempo, a dinâmica, para quem não tem gosto com a área de atuação, pode ser enlouquecedora. Realmente é. Até para quem gosta.
Atuando há muitos anos em radiojornalismo, um produtor sabe que mesmo com entrevistas e pautas, previamente agendadas, atender ao telefone que toca é como trabalhar no garimpo  – pode render ouro em pó, em meio a tanto cascalho sem valor. Pode ser informação “quente” em meio a outras frias repassadas pelos ouvintes que muitas vezes só podem para ser ouvidos um pouco sobre as aflições cotidianas. E tem que ter tempo pra ele também, que te prestigia com a audiência que faz o negócio dar certo.  
Além do aparelho telefônico interromper o tempo todo qualquer linha de pensamento ou batida no teclado da nova pauta, também tem o e-mail que chega, o whatzapp, uma ideia lembrada com urgência pelo chefe, a vontade de ir ao  banheiro que vai sendo adiada, o repórter que quer entrar no ar já porque tem uma reportagem importante.
 O horário de entrar os comerciais já está passando, perigosamente muito além do tempo previsto, é preciso alertar os colegas de que o compromisso comercial é muito importante e fazer o barco andar harmoniosamente, o melhor possível.
E aquela entrevista agendada um dia antes vai perdendo a relevância perto de tudo que está acontecendo. E você ali, se culpando por te se firmado um compromisso com a fonte contatada 24 horas antes. Dá pra remarcar, mas o entusiasmo inicial ficou na poeira das horas e dos novos fatos. Mesmo assim manda a educação ligar e se explicar com quem se dispôs a falar em público com os ouvintes.
Não significa, no entanto, que não deva haver planejamento, este voltado para assuntos muito pertinentes ao interesse da sociedade, de forma ampliada ou localizada, atendo ao público de um segmento social, de um bairro, de uma cidade da região metropolitana.
E quando o tema é importante, e trabalhado com mais tempo pela reportagem, o programa radiofônico ganha peso e explode na audiência feito bomba. Felicidade total quando outros colegas pedem uma cópia do áudio, o fone do entrevistado.
Mas só porque você já tem o peixe garantido da pesca anterior não significa que o profissional não tenha que estender o espinhel no mar noticioso todo dia. É bem isso que acontece, liga-se para uma pessoa na qual há interesse, está na caixa postal. Deixa-se então recado, escreve-se uma mensagem (o telefone tá tocando, tocando) pedindo retorno o mais breve possível.
Se é um assessor de imprensa, e já atuei nesta área mais de uma década antes de voltar para o radiojornalismo, e por isso considerando os bons profissionais que se revelam grandes e ágeis parceiros,  a pergunta é curta e grossa: que interessa esse assunto? A quem interessa? Se a resposta for sem lead, sem convencer na primeira frase, a entrevista pode cair na gaveta do esquecimento. Caso contrário, ok, vou ver o material e talvez te ligo um dia desses. Depois da chuva.
Para quem gosta desse redemoinho de atividades em informações, outra área do jornalismo é lembrada como deprimente e entediosa. Mesmo que as leis da interatividade valham também para tv, rádio e internet. Dizem que rádio é cachaça, parece sim.
Mesmo saindo ao final do  turno  no bagaço, com dor de cabeça, no corpo e na bexiga, a ressaca passa logo logo, e no próximo dia seus efeitos já estão  esquecidos. Acorda-se com uma sede insaciável, buscando ler muito sobre tudo para estar atualizado.
E se tudo foi bem ou mal no dia anterior, esquece! Uma nova batalha começa da estaca zero, que exige mais uma vez estar antenado à realidade em tempo instantâneo. E vamos à luta, como se fosse o primeiro dia de trabalho na vida.

 


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